Seminário Preparatório – Bienal Afro-Brasileira do Livro 2026

Convidada para compor um grupo seleto de especialistas com o objetivo de pensar a primeira Bienal Afro-Brasileira do Livro (Bienafro), com previsão de realização em 2026, a equipe do Instituto Calundu foi representada por nossa diretora fundadora Dra. Adélia Mathias, especialista em literatura afro-brasileira da equipe.

O encontro ocorreu entre os dias 09 e 10 de julho, nas instalações do hotel San Marco em Brasília e foi promovido pela Secretaria de Educação Continuada, Educação de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação (SECADI/MEC) em conjunto com a UNESCO.

Ideia concebida pelo multiartista Gato Felix e endossada pelo MEC por reconhecer a importância do projeto para a celebração da lei 10.639/2003, a Bienafro tem como objetivo principal romper com a exclusão histórica de vozes negras na literatura brasileira através da promoção de um espaço propício ao cultivo da diversidade capaz de evidenciar a importância da representatividade e do acesso às obras de autoria afro-brasileira.

 O evento visa estimular produção e circulação de obras negras, o que envolve uma cadeia complexa de agentes do campo literário: escritores/as, revisores/as, editores/as, designers, diagramadores/as dentre tantos/as outros/as profissionais e impacta na economia. Também valoriza a educação antirracista e cria pontes entre os/as profissionais anteriormente citados/as e o público leitor: educadores/as e comunidades. Isso significa que o evento não começa e se encerra em sua realização, ele se pretende um movimento de resistência e transformação que reivindica o lugar da literatura negra como parte central da cultura nacional.

Além de fomentar a publicação de obras com protagonismo negro, a Bienafro também se propõe a influenciar políticas públicas e práticas do mercado editorial, enfrentar desigualdades estruturais e ampliar o acesso ao livro e à leitura nas periferias e territórios quilombolas.

A reunião de diferentes agentes do setor, já iniciada a partir de sua concepção e discussões com especialistas como acontece nesse evento preparatório inaugura um novo ciclo de diálogo e cooperação voltado à construção de uma literatura brasileira menos desigual, mais plural e democrática.

A partir de toda essa premissa apresentada, nos dias do evento preparatório foi possível notar o pontapé inicial da iniciativa. Editoras, especialmente as independentes e negras, mas também outras que têm em seu catálogo selos ou espaços específicos para publicação de temas caros à população negra assim como sua autoria.

Ainda em processo de consolidar a concepção do evento, foi feita uma recepção para o pessoal especializado na qual foi possível reencontrar algumas personalidades importantes no cenário da literatura brasileira burbana e contemporânea como Esmeralda Ribeiro, editora do Quilombhoje, Kiussam de Oliveira, escritora infanto-juvenil, Cristiane Sobral, também escritora, e Íris Amâncio editora da Nandyala. Foi também possível conhecer demais colegas, como Wagner Amaro da editora Malê, Juninho da editora Dandara, Toni da editora Anita Garibaldi e da LiteraRUA, Fernando Baldraia da Cia das Letras e demais professores/as, pesquisadores/as, escritores/as de literatura africana e/ou afrodiaspórica.

Foram propostas 3 mesas de fomento para os GTs e a própria confecção do evento final, a saber: Por que Bienafro?; Negras Editoras e; Afros-brasileiros e o mercado editorial. Seguidas por cinco GTs voltados para temas específicos: A força das editoras negras; Negritude no mundo editorial: de tema a sujeito; O mercado editorial e negras grafias; HQs, Afrofuturismo, ficção e literatura marginal; Livros didáticos, mercado editorial e população negra.

Todo trabalho ampliou o repertório e o conhecimento, principalmente, sobre o funcionamento das editoras, suas histórias de criação e continuidade, inclusive em tempos de crise como foi o período da COVID, o boom de autoria negra a partir do ano de 2020 e a suposta tensão entre escritores/as que migraram das editoras menores e independentes para grandes editoras, o esforço por editoras universitárias para abrir editais e disponibilizar mais o olhar negro na ciência, assim como possibilidades de parcerias e criações de políticas governamentais que atendam editoras negras, pois, como já foi dito, elas movimentam profissionais do campo em relações complexas de economia.

O saldo é positivo, quando se pensa que a cosmopercepção de um evento que envolve literatura, incorpora em seu trabalho a expertise de profissionais como nós que compomos o Instituto Calundu, pois é lembrado o fato de que a temática da afrorreligiosidade faz parte do universo literário e como tal, faz parte desse projeto a respeito da cultura afro-brasileira, tão importante e consequência de esforços mútuos e contínuos por cada agente presente no evento.

O Instituto Calundu, na pessoa da Dra. Adélia Mathias, participou do trabalho sobre o mercado editorial e negras grafias, e agradece o convite para fazer parte desse evento, da construção da primeira Bienafro, e se disponibiliza a colaborar com os próximos passos para sua efetivação.

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