Ori-entação: como orienta quem nos orienta?

Nossa última reunião, realizada no dia 29 de maio de 2024, foi centrada nos textos “Quem Orienta Quem” e “Ori/entação como Sistema de Navegação no Espaço Acadêmico”, ambos do antropólogo Alex Ratts. Esses textos oferecem reflexões profundas sobre o ambiente acadêmico, com foco especial no momento de orientação entre professor e aluno.

Alex Ratts explora o conceito de “ori”, palavra derivada da língua yorubá, que significa “cabeça” e que simboliza (é, em uma leitura imanente nagô) a orientação do ser. Ele propõe que o ori atua como um guia na construção acadêmica, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento de pesquisadoras/es. Durante nossa conversa, destacamos como Ratts relaciona o ori ao mar, um símbolo de orientação na vida. Gerlaine Martini, a pesquisadora responsável pela apresentação dos textos da semana, explicou que Yemanjá, a orixá que no Brasil é mãe das cabeças (não o é em Cuba, conforme o pesquisador Hans Carrillo) e senhora do mar, exemplifica essa ligação. Assim como o mar, a academia pode ser vista como um vasto oceano onde a orientação determina a navegação do aluno.

Debatemos a importância do ori tanto como identidade individual quanto como uma percepção cósmica e coletiva. No terreiro, o ori de cada indivíduo influencia o grupo. Se o ori de um membro não é devidamente alimentado, isso afeta toda a comunidade. Dinâmica aproximada se aplica à academia, especialmente quando identidades marginalizadas, como pessoas negras e indígenas, ingressam na universidade. Esses indivíduos carregam a responsabilidade de representar seus ancestrais e suas lutas, ampliando o espaço acadêmico para um coletivo maior.

Nosso debate também abordou a dificuldade de ser uma pessoa coletiva em um ambiente eurocêntrico. A representação traz consigo a responsabilidade de levantar pautas relevantes e se comportar de maneira que honre o coletivo. Quando pensamos em cotas raciais, esse exemplo cai como uma luva. No entanto, essas pessoas (nós!), cotistas ou não, frequentemente enfrentam a invisibilidade e o cansaço extremo decorrente dessa luta constante. Reconhecemos que, para se(nos) proteger(mos), é crucial manter-se(mantermo-nos) em coletivo, encontrando força e apoio mútuos.

Em conclusão, nossas discussões destacaram a importância do ori como guia na Academia, não apenas para o desenvolvimento individual, mas também para o fortalecimento da coletividade. A orientação, tanto no mar da vida quanto no espaço acadêmico, deve ser compreendida como um processo que engloba identidade, responsabilidade e apoio mútuo.

Texto escrito por Iara Silva Bidô, sob a supervisão de Guilherme Dantas Nogueira

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