Os/as filhos/as de Oxum são mais propensos/as ao choro? E os/as filhos/as de Xangô têm, de fato, a autoestima mais elevada dentro de um terreiro? Nathalia Vince conduziu a discussão da reunião do dia 15/05/2024 em torno do texto “Encruzilhadas e travessias: o encontro do humano e do divino na casa de candomblé Ilê Axé kalumu funfum sob o olhar da psicologia transpessoal e da poética de Gaston Bacherlad” do autor Vicente Parizi.
Ao longo da obra, Parizi examina os diversos aspectos da vida nesta casa de candomblé, desde as cerimônias rituais até as relações entre os membros da comunidade religiosa. Ele destaca como o espaço físico da casa de candomblé se torna um lugar de encontro entre o humano e o divino, onde os praticantes buscam conexão espiritual e transcendência por meio da música, da dança, dos cânticos, das oferendas e de outros rituais.
Além disso, o autor analisa as transformações psicológicas e espirituais nos/nas praticantes do candomblé, explorando como mitos, símbolos e arquétipos presentes podem influenciar no processo de individuação e crescimento pessoal de cada um/a.
No debate, exploramos os variados arquétipos dos/as filhos/as dos orixás e como os/as integrantes se orientam por meio de características que lhes foram transmitidas – dentro e fora dos terreiros -, e que, às vezes, podem abalar o senso de identidade de alguns/mas irmãos/ãs quando não se reconhecem com o que supostamente deveriam ter herdado. No entanto, percebemos que essas características acabam por refletir os próprios atributos dos orixás, não são alegorias para compreensão de um funcionamento social como propõe a teoria dos arquétipos. Essas características também são designadas aos lugares que se oferecem aos orixás dentro de espaços e preces, como a escolha de Ogum como o orixá guerreiro, quando praticamente todos os demais orixás também são guerreiros/as, de acordo com seus próprios enredos.
Abordamos como são entendidos os orixás dentro dos candomblés. De forma geral, os orixás são entendidos pelo autor apreciado como extensão de Olodumare, entretanto não é um consenso pensar em Olorum como um criador que abandonou a sua criação, pois ele está perene em todos os atos, atuando por intermédio de suas emanações, isto é, dos orixás.
Sendo assim, um dos questionamentos mais importantes foi se o candomblé é uma religião monoteísta. Em uma análise coletiva, com a sugestão das pesquisadoras presentes, chegou-se à conclusão de que há termo mais adequado, que transcende o pensamento dicotômico de monoteísmo e politeísmo, o “henoteísmo”, crença em um deus supremo sem negar a existência de outras divindades e entidades superiores que podem também ser adoradas.
Texto escrito por Iara Silva Bidô, sob a supervisão de Adélia Mathias
