A reunião do dia 19 de setembro de 2024 foi conduzida pela estudante extensionista Thalita Marques, participante do projeto Diálogos Comunitários Calunduzeiros. Debatemos acerca do capítulo 1 da obra “Ori, o Orixá Maior sob a perspectiva do povo Yorubá”, que é uma dissertação de mestrado da mãe de santo e antropóloga Nílsia Lourdes dos Santos.
Em seu trabalho, a autora do texto destaca o conceito central de Ori, que é entendido por ela como a essência individual, o “orixá pessoal” de cada ser humano. Ela destaca a importância do Ori dentro da cultura e espiritualidade yorubá, enfatizando que ele é considerado o elemento mais importante na vida de uma pessoa, pois guia o destino e influencia a existência terrena. O capítulo também explora a relação entre Ori e o conceito de destino, mostrando como os yorubás acreditam que, antes de nascer, cada pessoa escolhe seu próprio Ori, determinando assim o curso de sua vida.
Thalita iniciou a discussão destacando que Ori representa não apenas a cabeça física, mas também a essência e o destino individual, influencia diretamente as percepções de mundo e a forma como cada pessoa vive e se relaciona com a vida. Quando o Ori é devidamente cuidado e honrado, ele traz clareza, equilíbrio e bem-estar, impactando positivamente a saúde mental e emocional.
Em sua exposição, a extensionista aprofundou a discussão do texto, trazendo aportes igualmente de outras leituras. Ela destacou um ponto da autora, que indica que na África, a iniciação de uma pessoa pode ser feita a mais de um Orixá, refletindo uma conexão espiritual múltipla e complexa. E isso reflete a existência plural das pessoas.
Nilsia Lourdes dos Santos indica em sua dissertação, em contraste a isso, que no Brasil, essa prática muitas vezes se concentra em um único Orixá. O paralelo com a Nigéria destaca as diferenças na vivência e prática religiosa, evidenciando a riqueza e a diversidade das tradições africanas e afro-brasileiras. Na diáspora brasileira, a escravidão e a repressão do povo negro impactaram profundamente a forma como o Ori é compreendido e cultuado, levando à necessidade de adaptações e ressignificações de rituais.
É importante reconhecer que as experiências do povo negro na diáspora não se limitam a uma matriz única, mas são resultado de uma difusão cultural que envolve a reinvenção de identidades e práticas. Isso inclui tanto os desafios impostos pelo racismo quanto às resistências criativas que mantêm vivas essas tradições. Debateu-se, inclusive, para além do que é apresentado no texto, que diferenças importantes de culto e até mesmo em como pensar Ori reexistem no Brasil, sem que isso implique em perda da saúde mental. Em outras palavras, Oris estão saudáveis, mesmo que cultuados de maneiras distintas entre terreiros e religiões afro-brasileiras.
Durante nossas discussões, as pesquisadoras Fábia e Lívia, estudiosas do campo da psicologia, refletiram sobre como os processos internos e as práticas de cura espiritual influenciam a saúde mental. O Ori, como um guia espiritual, pode tanto abençoar quanto desafiar a pessoa, dependendo de como é cuidado e honrado. Nenhum Orixá interfere no destino de alguém sem a permissão do seu Ori, ressaltando a importância desse elemento como centro de poder e autonomia individual.
Assim, cuidar do Ori é mais do que um ato religioso; é um compromisso com o bem-estar integral do ser, unindo corpo, mente e espírito. Honrar o Ori é um caminho para a plenitude, reafirmando a importância de práticas que promovam o equilíbrio e a harmonia, essenciais para uma vida verdadeiramente plena e saudável.
Texto escrito por Iara Silva Bidô, sob a supervisão de Guilherme Dantas Nogueira
